Somos todos Cidadãos

A maior parte dos muçulmanos que vivem no Brasil são cidadãos brasileiros. Estão contidos em nossa sociedade de maneira que, muitas vezes, suas diferenças sequer são notadas – porque na verdade não são tão expressivas assim.

Temos presenciado e repudiado com veemência atos extremistas no exterior, que atentam contra a liberdade individual e a vida humana. Entretanto, talvez não esteja sendo dada a devida atenção, nas últimas semanas, a ações graves que ocorreram em nosso próprio país.

No último dia 22 de março, uma mesquita em Brasília foi violentamente atacada, depredada enquanto fiéis realizavam suas primeiras orações do dia. Seis dias depois, em São Paulo, um jovem estudante de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que participava de uma manifestação favorável ao Impeachment da Presidente Dilma, carregava um cartaz com os seguintes dizeres: “Não islamização no Brasil – Fechem as fronteiras”.

Independentemente de crenças religiosas ou orientações políticas, talvez não tenha sido ressaltada suficientemente a gravidade de acontecimentos como esses.

Provavelmente, o jovem da manifestação da Universidade Mackenzie se referia aos refugiados em seu cartaz. Discriminar, incitar o ódio e inferir o cerceamento do direito de ir e vir é crime, e faz alusão a movimentos neonazistas europeus.

Poder pensar de uma forma e tolerar que o outro pense diferente, além de ser um exercício da democracia e da cidadania, é um dos preceitos do Islam.

A estrutura religiosa ou étnica que não conhecemos, geralmente, é exótica para nós. E esse exótico pode sempre ser levado para o bem ou para o mal. No caso do islamismo, por conta de ações erroneamente relacionadas à religião, isso é sempre levado para o mal. Muçulmanos são equivocadamente vistos como terroristas, por conta das ações de uma minoria que sequer deveria ser chamada de religiosa.

A falta de informação e conhecimento é o principal fator que motiva acontecimentos como estes. Nossos jovens, pautados pelas rasas leituras de internet, ou ainda pelo conteúdo engessado da grande mídia tradicional, estão fadados a entenderem pouquíssimo ou nada sobre o mundo em que vivem. Tornam-se egocêntricos ou, pior ainda, etnocêntricos. Isso precisa, em caráter de urgência, ser desconstruído, e as informações equivocadas devem ser desmistificadas.

Por isso, convidamos a comunidade mackenzista – professores e alunos, sobretudo aquele que carregava o cartaz islamofóbico, a nos conhecerem melhor. Queremos que venham e participem conosco das ações comunitárias que desenvolvemos há décadas, unindo forças pela preservação da vida. Estendemos nosso convite a todos os interessados. Dessa forma, queremos fornecer ferramentas a escolas e universidades para mostrar que o Islam é uma religião de paz, e para que o nosso jovem entenda que quem pensa diferente não é inimigo. Ideias divergentes ou preferências políticas contrárias não justificam de forma alguma o ódio e a criação de inimizades.

Estamos em tempo de definir os rumos de nosso país. Portanto, temos a responsabilidade de fundar nossas bases de maneira sólida por um bem comum, e não em cima de ataques, de valores preconceituosos, racistas ou xenófobos. Para um país melhor, nossas escolhas devem ser fundamentadas para além do que concordamos ou discordamos. O caminho para o Brasil que queremos deve ser trilhado pelo respeito, pela tolerância e pelo diálogo sadio. No que concerne à Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, as portas para este diálogo estarão sempre abertas.

 

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